A cervicalgia, ou dor cervical, é uma queixa comum que afeta a região do pescoço e pode causar impacto significativo na qualidade de vida. A dor pode variar desde uma sensação leve de desconforto até uma dor intensa, incapacitante e que irradia para os ombros, braços e cabeça. A cervicalgia é definida como dor localizada na região cervical, podendo estar associada a alterações musculares, articulares e nervosas da coluna cervical.
Características da Dor na Cervicalgia
A dor cervical pode apresentar diferentes características, dependendo da origem do problema. As formas mais comuns incluem:
- Dor mecânica: relacionada à movimentação ou postura, costuma piorar com atividade física e melhorar com o repouso. Geralmente é uma dor localizada no pescoço, podendo irradiar para a região dos ombros e parte superior das costas.
- Dor neuropática: quando há compressão ou irritação dos nervos cervicais, como em casos de hérnia de disco cervical ou estenose foraminal. Caracteriza-se por dor em queimação, formigamento, sensação de choque e pode vir acompanhada de fraqueza muscular e alterações na sensibilidade dos braços e mãos.
- Dor inflamatória: menos comum, manifesta-se com rigidez matinal, dor que melhora com o movimento e piora com o repouso, podendo estar associada a doenças reumatológicas, como espondilite anquilosante.
A duração da dor é importante para o manejo clínico, sendo classificada em aguda (menos de 6 semanas), subaguda (6 a 12 semanas) e crônica (mais de 12 semanas).
Diagnóstico
O diagnóstico da cervicalgia é baseado na história clínica detalhada e exame físico completo. A maioria dos casos é classificada como cervicalgia inespecífica, quando não há uma causa definida, como fraturas, infecções ou tumores. É essencial identificar sinais de alerta (“red flags”) que indicam necessidade de investigação mais aprofundada, como:
- Dor intensa e progressiva, especialmente à noite
- Perda de força significativa ou alteração da sensibilidade
- Alterações no controle urinário ou fecal
- História de trauma ou câncer
- Febre persistente
Em casos sem sinais de alerta, exames de imagem geralmente não são recomendados nas primeiras semanas para evitar tratamentos desnecessários.
Tratamento
O manejo da cervicalgia deve ser multidisciplinar, seguindo as melhores evidências científicas disponíveis, combinando tratamentos farmacológicos e não farmacológicos:
- Medidas iniciais: estímulo à manutenção das atividades cotidianas e realização de exercícios leves para evitar rigidez e fraqueza muscular.
- Fisioterapia: programas individualizados de exercícios para fortalecimento muscular, alongamento e correção postural são fundamentais para recuperação e prevenção de recidivas.
- Medicações: analgésicos simples e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são comumente usados para controle da dor. Relaxantes musculares podem ser indicados em casos de espasmos musculares intensos. Opioides são usados com cautela e geralmente apenas em casos selecionados.
- Terapias complementares: acupuntura, terapia manual e técnicas de relaxamento podem ajudar a aliviar a dor e melhorar a função cervical.
- Intervenções avançadas: para dor crônica e neuropática, bloqueios anestésicos e outras terapias intervencionistas podem ser consideradas, especialmente após falha do tratamento conservador.
- Apoio psicossocial: a cervicalgia crônica pode estar associada a fatores emocionais, tornando a terapia cognitivo-comportamental uma importante ferramenta no manejo da dor e na melhora da qualidade de vida.
Referências Atualizadas
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