A Síndrome Complexa de Dor Regional (SCDR), também conhecida como Síndrome do Dedo Podre ou Causalgia, é uma condição dolorosa crônica que geralmente afeta um membro — braço, mão, perna ou pé — após um trauma ou lesão. Apesar de ser relativamente rara, é importante conhecê-la para um diagnóstico precoce e tratamento eficaz.
O que é a SCDR?
A SCDR é uma condição caracterizada por dor intensa, persistente e desproporcional em relação à lesão inicial, acompanhada de sinais como inchaço, alteração da cor da pele, aumento da sensibilidade e até alterações motoras. A dor pode ser queimação, latejante, elétrica ou sensação de frio intenso.
A causa exata da SCDR não é totalmente compreendida, mas envolve uma disfunção do sistema nervoso periférico e central, com alterações na comunicação entre nervos, vasos sanguíneos e tecido imunológico.
Causas da SCDR
A SCDR normalmente surge após:
- Traumas físicos: fraturas, entorses, cirurgias, contusões ou até pequenas lesões
- Lesões nervosas: compressão ou corte de nervos periféricos
- Infecções, doenças vasculares ou imunes também podem estar relacionadas
A dor e os sintomas persistem por tempo prolongado, muitas vezes além do esperado para a cicatrização da lesão.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da SCDR é clínico e segue critérios específicos, conhecidos como Critérios de Budapest (2010), que avaliam sinais e sintomas em quatro categorias principais:
- Dor contínua, desproporcional ao evento inicial
- Presença de pelo menos um sintoma em cada uma das categorias:
- Alterações sensoriais (hipersensibilidade ou dor ao toque)
- Alterações vasomotoras (mudança de cor ou temperatura da pele)
- Alterações sudomotoras/edema (inchaço, suor anormal)
- Alterações motoras/trofismo (fraqueza, rigidez, alterações na pele, unhas)
- Evidência clínica de pelo menos um sinal nas mesmas categorias durante o exame físico
- Exclusão de outras condições que poderiam explicar os sintomas
Além disso, exames complementares como ressonância magnética, termografia, exames neurológicos e laboratoriais podem ajudar a descartar outras doenças.
Tratamento da SCDR
O tratamento da SCDR deve ser multidisciplinar e precoce, visando controlar a dor, melhorar a função do membro afetado e evitar complicações. As abordagens incluem:
- Medicações para controle da dor neuropática, como antidepressivos tricíclicos, anticonvulsivantes (gabapentina, pregabalina), opioides em casos selecionados, e anti-inflamatórios
- Fisioterapia e terapia ocupacional, para manter a mobilidade, prevenir rigidez e melhorar a função
- Bloqueios nervosos e anestésicos locais podem ser usados para alívio da dor
- Estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) e outras modalidades físicas para controle da dor
- Psicoterapia e suporte psicológico, pois a dor crônica pode causar ansiedade e depressão
- Em casos resistentes, podem ser indicadas técnicas avançadas, como estimulação medular ou terapias intervencionistas
Prevenção e prognóstico
A prevenção da SCDR está relacionada ao tratamento rápido e adequado de lesões, além do controle da dor no pós-operatório ou após traumas. O prognóstico é melhor quanto mais precoce for o diagnóstico e o início do tratamento.
Referências científicas
- Harden RN, Bruehl S, Stanton-Hicks M, Wilson PR. Proposed new diagnostic criteria for complex regional pain syndrome. Pain Med. 2007;8(4):326-331. doi:10.1111/j.1526-4637.2007.00386.x
- Marinus J, Moseley GL, Birklein F, et al. Clinical features and pathophysiology of complex regional pain syndrome. Lancet Neurol. 2011;10(7):637-648. doi:10.1016/S1474-4422(11)70106-5
- Bruehl S. Complex regional pain syndrome. BMJ. 2015;351:h2730. doi:10.1136/bmj.h2730
Goebel A. Complex regional pain syndrome in adults. Pract Neurol. 2011;11(5):272-281. doi:10.1136/practneurol-2011-000028